quarta-feira, 23 de maio de 2012
SEGREDO NOTÓRIO
Não faltará a possibilidade de ser eu teu, de novo
Outros domingos
Outros jantares
Transas de madrugada ou rapinhas na hora almoço
Tudo cor e cheiro
E olhos virando nuvens
Tudo da gente
Não faltará nova chance
Mas eu estou indo embora
Deixo essa dúvida para você matutar
Um será maior que possa imaginar
De tirar o sono
Eu vou
Agora
E quem sabe
Outra vida
Outra vida
Outro sonho
Outro encontro
Outras cores
E tu falando aquilo no meu ouvido
O segredo notório entre os casais mais quentes.
QUERER
Pele quer pele
Coisa de ter e pensar que tem
Mistura estranha explosiva de fluidos corporais
Olho no olho, na bunda e as mãos atrevidas se permitem
Percorrer e andar e nadar e mergulhar e suar junto
Com todos os membros
Que querem ser parte de um todo que cresce e se soma
Se aumentando e transformando
Em coisa estranha e nova
E vira outra canção de amor.
JUSTIFICATIVA
muito do seu perigo eu sei
coisas que estão entre o azul e o vermelho
perece que não conseguirei dormir
tá tudo querendo uma resposta, justificativa
será que somos atores dessa peça maluca?
ou foi amor mal amado que aconteceu?
quando eu ando
eu caminho por mundo outros loucos diferentes
me permito ser outros
para não ser o mesmo azul de sempre
e outras cores exigem outros cheiros
outras texturas,
outras interações
e eu deixo acontecer.
será que vamos ficar assim um e outro
calados
?
será que a distância ela mesma venceu?
será que fui de ti, realmente roubado?
ou foi uma estranha e batida condição obrigatória de outras
vidas
nos apaixonar?
e eu
fico
sozinho
pensando em você
queria
uma resposta
doce e sincera
pra acalmar
essas minha mão
tristes
e
apressadas
que tocam
música
antigas
e
sambas
nas coisas
pra
passar
o
tempo
que
quer te passar...
amor.
sexta-feira, 18 de maio de 2012
AINDA
Você ainda é presente em mim
Embora espaços vazios te denunciam em condição
Não há mais o cheiro
E os carinhos
Só duras e cortantes lembranças
Sem cor
Sem cheiro
Geladas
Você não vem mais pra mim
E é quase seu aniversário
Queria tanto ouvir sua voz
Escutar o silêncio que cerca também quando não há palavras
O que fazer?
Ao menos te perdoou
E falo a verdade aos meus amigos
Que estou sofrendo pela sua ausência
Mas que irá passar
Vou me curar de você.
quinta-feira, 17 de maio de 2012
MUDANÇA
Ele chorou até cansar naquela noite; na outra enquanto se
ouvia uma música da Bethânia, daquelas bem melosas, chorou de novo, mas no
tempo certo da música: exatos três minutos e cinquenta e cinco segundos. Estava
perfeito. Nem lenços, nem vergonha, nem mais nada da ordem de tristes. Nele
tinha, agora, outra cor, outro tom, outro-outro. Tudo nele estava maior. Ele
tinha mudado e sabia disso. Nunca mais chorou por amor.
terça-feira, 15 de maio de 2012
AÍ QUE DOR
Inovador
Uma nova dor
Outro amor
Ou compositor
De outra dor
Outro amor
Que com ardor
Transformador
Muda aquela dor
De corredor
Circuladô
FORRÓ DO DESMANTELO
Morena se tu gostas vem que tem
Se tu curte um chamego vem que tem
Se me acha essa coisa toda vem que tem
Se quando treme as perninhas o folego já não tem
Vem que tem
E fica louca vira bicho, vem que tem
Vem com sede vem neném
Oh morena tu não sabe que eu adivinho teus desejos
Os todos os teus gostos todos-todos, teus agrados, tuas
manhas vem que tem
Nessa noite toda quente
Nessa noite toda ardente tu me vem
Com o teu cheiro bem gostoso
Oh morena vem que tem
Vem que tem
E se tu ficas uma semana
Sem vir pra o forró
Eu fico louco é de desejo
Fico outro viro um nó
Oh morena vem logo, vem pra esse desmantelo
Vem simbora, vem voando
Vem atrás do seu apego
Vem correndo, vem táxi, moto-táxi vem ligeiro
Vem morena, moreninha vem pra esse desmantelo
MEDO DO AGRICULTOR
A saudade da mata me toma aqui na cidade
Obrigado a pena, ficar nesta casa capital
Longe do barulho menor e mais forte, bravo da mata
Pra mó de eu não morrer
Mas eu aqui longe da mata
A saudade me toma e quase me mata
Quando vejo o céu que lá é mais meu
Que lá é mais azul e a luz da lua mais luz da lua
Tudo cru, e plantado e crescendo
O boi, a galinha, a mulher
A saudade da mata me mata
Se não me disserem que volto
Eu morro de novo
domingo, 6 de maio de 2012
ESPELHO BANDIDO
Espelho bandido ainda te digo
Sou teu amigo, me responde
Por onde que anda aquele menino
Ainda tão vivo
Que nasceu em mim
Tu pregas uma peça
Me faz mentiroso
Um louco varrido
Eu juro sou teu amigo
Espelho bandido de um motel
Que passas tímido, vitrine
Que fica calado: espelho quebrado
Que olha de volta espelho, proposta de manhã
Não julgo tua logica
Teu jeito absurdo
Te faço maluco rindo contigo sem razão
No meu desaforo te cubro, ignoro
Reflexo escondido, trancado, com uma toalha molhada
Mas espelho bandido
Não sou um perigo
Perigo é você mostrar essas coisas sem razão
Jamais ousaria, te por em abismo
Me cair contigo: quebrar em outros tantos
Perdendo e ganhando maldição
O tempo safado te dita, e tu apaixonado por ele
O segui
Poderias ser teu próprio chefão
Não julgo tua lógica precisa
E deixo teu nome bandido, por seu teu amigo,
Se raiva somente tu serias palavrão.
sexta-feira, 4 de maio de 2012
PERMISSÃO
Deus, acredito somente no senhor como forma maior e única de
poder e relevância religiosa, minha fé é sua. Mas me permita direcionar a Dionísio
e culpa-lo pelos sonhos ainda com a mesma pessoa. Meu corpo já sabe, minha
mente, meus amigos, tudo está de acorda com as penas românticas que possuo, o
sonho é que entra incoerentemente e conta com o passado prometendo futuro
lindo. Coisa inaceitável. Preciso explicar mais uma vez a Dionísio o que está
acontecendo e caso não cumprido, condená-lo, na minha condição humana ignorante,
de agir contra minha integridade emocional.
terça-feira, 1 de maio de 2012
MINTAS
Quando te perguntarem sobre teu coração e certidões íntimas
de compromisso: mintas. Não deixe nosso amor atrapalhar mais ainda tua vida,
que se perdeu por instantes com a minha, numa profunda e avassaladora paixão,
que se obrigou a se vestir de saudade e distância. Não queiras ser nome em personagem
de história de amor, que não dá certo. Vamos ser mentira. Inteiras e distantes mentiras
necessárias. O amor nos deixou.
terça-feira, 24 de abril de 2012
EXPLICAÇÃO
Não espero:
Não quero mais:
Não desejo abertamente, exceto os segredos:
Não escrevo,
Não escrevendo tenho a ausência:
Que é a morte de tudo:
Ponto final de cada oração.
Amém.
segunda-feira, 23 de abril de 2012
VOCÊ NA SUA
Nada quase nada
E olha o que restou
Passado numa foto minha que você tirou
Eu anuncio um nada e você: nada faz
O coração fica parado indignado
Sem sabe como proceder
Você na sua
Será que sou eu o único maluco aqui?
Você nem diz que vai, que vem, nem nada, nem desdiz
Será que estamos mesmos condenados a viver tão longe de nós?
Será que essa história de moça-nova chegou ao fim?
Quem pode pensar em você assim: azul?
Quem pode contar que te ama, bêbado, de madrugada num
telefonema pra ti?
Quem pode descobrir tuas manias insanas e ridículas sem fim?
Quem rasga os teus bilhetes rosas de raiva e põe a culpa em
ti?
Será que estamos mesmos condenados a viver tão longe de nós?
Será que essa história de moça-nova chegou ao fim?
[Quem pode?] Qual autor cruel pode autorizar o nosso fim?
domingo, 22 de abril de 2012
SUA ALEGRIA
É maior isso que você tem ai
Tanto que não cabe direito em você
Fica vazando
Pingando
Suja todo o ambiente
As pessoas se assustam
Absorvem um pouco
Até chegar a parte da ignorância
Como não há o conter de valorização
Sua felicidade perecível apodrece.
sexta-feira, 20 de abril de 2012
BOBAGEM
Viraste resposta
Quando era pra ser só pergunta
Coisas entre ‘como foi seu dia hoje?’ Ou ‘você está com
fome, jantou?’
O quebra-cabeça há de refazer outras vezes
Com outras pessoas a se montar
Espero.
Mas todas essas pragas de velha cigana
Que te rogo
As maldições gregas,
Os desejos de morte
Que tive e que agora se calam e se nomeiam bobagem
Denuncia o bem quero
E o certo e merecido
Adeus.
quinta-feira, 19 de abril de 2012
UM OUTRO TEXTO DE AMOR
Não digas mais o meu nome
Tu, pedra, rolaste
O teu cheiro sumiu no espaço
O teu perigo foi conhecido
Te evitam
Eu dei a mão, o braço, você pegou,
Mas se jogou de novo na água suja do seu destino
Você perdeu o bote,
Estou partindo, partindo, partindo
E nem adeus
Estamos longe
Você é avesso, do avesso, do avesso do mil avesso
E nunca é nada
Você padece, é perecível
Sua cor desbotada
Você tem nada, tem nada, e quer tudo
Você tem
É feio isso ai que você mostra
Você procura um nome, não encontra
É feio, é feio, é feio e
Nem é legal
Uma avalanche te soterra
Você no breu fica no breu
Nossa Senhora me entende
Ela lamenta por você
E lamento você fica, retrato
RETRATO
Você tem uma laranja podre na mão.
domingo, 15 de abril de 2012
MILORD
Quando ele entra algo logo se sente
Ele é dono, é dono, é filho do dono
Tem permissão falsificada
Tem direito
É merecido
É grande
É pequeno
É nada e tudo
E tudo e tudo, é nada
Muito, pouco, nunca no meio
Nunca em cima lá daquele muro
Ele é o muro que tenta separar o podre do de se comer
Um pé lá e outro cá
Participa
Verbo, palavra
Ele coloca os pontos finais
Ele inventa
Cria, coisa de filho do dono
Quando ele chora
Nossa Senhora chora junto
Ele é queridinho das mulheres
E dos homens de pensamentos acíclicos
Ele é reviravolta
Vingança e Justiça certa
Ele esquece, esquecendo ele mata, matando some,
somete tudo, tudo muda
somete tudo, tudo muda
Ele mesmo até muda
Mas é subindo
Aumentando, esticando
Criando-se em ar, espaço, âmbito
Ele tem o que nem sabe o que tem
Ele tem o sorriso poderoso
Capaz de roubar o coração do diabo
Aquele sorriso imitando de Deus
Seu Pai, Filho, Irmão e Amante
Secreto.]
COBRA
Te deixo ai mesmo
Nem sobre, nem exposto
Enterrado.
Tu mesmo cobra cascavel
Cobra sucuri
Cobra naja fatal
Quase Gal, se não fosse a parede que tem na sua frente
-como pode deixar um amor assim sob o sol ressecando?
E agora?! Ficas ai, e
eu fico onde o vento do norte me levar.
segunda-feira, 2 de abril de 2012
O PALAVRÃO DIVINO
Foi Deus quem pegou na minha mão e colocou embaixo da minha
cueca
Antes disso estaria uivando com uma pessoa desconhecida
Lambando, cheirando, rasgando, tudo saliva, sangue e
secreção pura,
Aquela, a branca]
Foi Deus quem me disse que não sou animal comum
Penso, logo gozo com tua imagem na minha cabeça
É quase um palavrão divino, o verbo gozar.
UM DIA NO SÍTIO
Juliana dormia na rede
Teresinha cantava na cozinha
Pedrinho deitava na sala
Nena, Juana e Maria costuravam de prenda sabida
Marcelinho com Tonho pescando
Era dia, tinha vaca, cabrito e cavalo
E os pais brincando no mato.
SONHO ÍNTIMO DO SERTÃO
A terra do sertão fica vermelha quando se molha, é uma
relação sexual da água com substância tão antiga chamada de chão. Passas sempre
longas estações distante daquilo que já se foi orgânico: o sertão foi mesmo mar.
O caboclo, não sabe. A lavadeira não sabe. A criança brincando com a boneca de
milho não sabe. Não se sonham muito além da porteira, e muitos nem conhecem o
mar, a não ser naquela noite longa de luar sobre a plantação molhada, tudo azul,
onde o sertão sonha com o passado.
quinta-feira, 29 de março de 2012
ABRE-TE
Ajoelha-te de Sésamo
Triste fortão que quer me dar
Abre tuas cavernas secretas
No nosso segredo mais lindo
E íntimo
Passado teu fogo
Te invento um conto
Pra tu que me amas demais
Tu é, tu é edifício
É difícil de te contar
Essas mentiras lindas
Ajoelha-te Napoleão
Agradece o ferro que te ferre
E tira sangue
Me beija
Me favorece
Nessa história de fogo
Tua carne tremida eu seguro
E assopro
Agradece a Deus, eu
Nero: incendiário de colchões masculinos
Num fogo azul alimentado por cachaça
Eu suspiro, eu como, eu chupo
E quero sempre mais
Tu nem é grande, Alexandre
Mas tu aguenta sorrindo um exército
Nem percebe que eu te invento único
Tua barba, tua cara de mau
Te derrubo e te engulo
Tua força é meu fel
Língua
Pele
Boca
Dente
Boca
Gemido
Escuro
Escuro
Comida
Prova
Provo
Segredo
Absurdo
Atiro
Atiro
Eu derrubo, abatido, é meu.
Te como.
Te como.
SUICÍDIO
Poderia inventar outro amor, um amor cor-de-rosa ou azul
mesmo, como você, mas em outro tom, um azul oriente médio turquesa. Poderia me
amar eu mesmo, frequentando mais bares, noites novas, pessoas de formar novas,
mistérios resolvidos. Mas aquela corrente que nos propomos a usar ainda há presa
a meu pé. Eu já tentei dizer que não tinha nada, que era só solidão, carência e
por isso os telefonemas e as mensagens. Tudo mentira.
Eu quero você. Eu quero você. Eu quero. Tudo aqui quer você.
Mas eu tenho que seguir. Reencarnar em outra vida, reciclar este corpo que me
resta e mudar. Mudar. Mudar. E virar passarinho. Ir voando pela janela todo dia
e voltar para meu ninho: dormir, tomar água e comer.
Aqui jaz nosso amor. Amor. Adeus.
segunda-feira, 26 de março de 2012
CANTO
em cada canto eu conto
em cada canto eu tento
em cada canto eu penso
em cada canto um conto
em conto um canto
meu, particular, dividido pelos acréscimos contado a finco
um depois, um depois. agora. e depois? esquece-se.
eu penso, eu conto, eu canto.
NADA NÃO
escrevo teu nome com minha menor letra
num pedacinho de papel
miudinho.
e depois engulo
é nada não,
é só saudade.
OUTRO MAR
mordo as tuas carnes mais nobres
é agosto ainda e choro tua partida
partida pelo atlântico
azul verde profundo atlântico
mar de esperanças inundam tudo aqui
um mar desgraçado, sobretudo salgado
e ainda é agosto, agosto, agosto
do cão, de deus, sei lá
teu sangue ainda eis em minha toalha
amarela
quase verde de esperança
quase negra de profana
sabes o que houve
eu não sei
acho que foi coisa de outro mundo
assim, como você
doce ilusão.
azul de escuridão
azul de noite sob o atlântico.
quarta-feira, 21 de março de 2012
FINDO
Tava abandonado seu
E você viu sim. Eu sei.
Parece que matou um pouco mais
De mim
Tava a pensar em nós dois
O corpo de estrelas marrons
E tudo que é bom e findo
findou
Agora não tem
Retrato pra olhar
Eu fico com a canção da Elis
Dizendo alguma coisa
Bem motriz
Perdida numa rádio qualquer
Ainda tenho aquela mentirinha
Escrita num papel
Azul
E os astros [todos loucos] se riem de mim
Tão azul tão blue tão zum
Se tudo que é findo finda
Por que que eu não findo o teu
Fim
terça-feira, 20 de março de 2012
LAVAR DE TAPETE
Eu chorei por você. Tomei guaraná também. Não foi nada. Foi
um bater de asas na verdade. O choro é antes desse sentimento condenado pelos
livros de autoajuda, os quais não leio, um processo de catarse profunda, de banho, de limpeza de carpete,
de tapete que você pisou, que você esteve. Você com toda sua sujeira desgraçada.
Não me importaria de me sujar contigo, o fiz várias vezes,
mas sempre com esse véu que tu usavas. Ridículo. Escuro e etéreo. Como os
cachorros bonitinhos que um dia mordem os seus donos. Você me deixou uma tremenda
marca de mordida. Amor.
Eu estou aqui. Sentando. Escrevi até um poema estilo
Gertrude Stein o que, acredito, você nunca olhará. Embora esteja em meu blog.
Você foi só um errinho romântico. Arquetípico meu. Eu queria me apaixonar e me
apaixonei. Eu e todo o mundo. O mundo que faz e fez bombas atômicas e mata por amor. Eu
mataria por amor. Já me matei algumas vezes. E me pus por algum instinto que
desconheço no caminho da luz, a qual me fez renascer. Estou aqui. Vivo e
escrevendo essas cartas quase vermelhas. Se houvesse as tintas certas.
Eu te amo, na verdade, e na mentira. Mas não quero outra vez
dormir do teu lado. Quero a distância, o esquecimento, de você e de tudo isso. Quero. amor
meu, é ser feliz: Coisa impossível ao seu lado. E para alguns um querer de
bases antagônicas, polares. Nem sempre o amor trás a felicidade. Não. Não tenho essa vontade
suicida de senhoras, do interior, de ficar ao lado do marido infiel, não seria
uma versão Simone de Beauvoir masculinizada, deixando você se apaixonar tantas
vezes por cretinos mais jovens, aos quais sempre haverá da sua parte mensagens
como “do meu coração para o seu”. Eu quero-mais-não.
Vai tomar no cu.
Pronto.
Lavei meu tapete.
Lavei meu tapete.
NA VERDADE
Na verdade você sabe que eu você temos química
Eu e você temos química na verdade
Eu e você somos química
Somos química, matemática
Português, inglês, física
Eu e você somos verdade
Na verdade somos verdade
Eu e você
Somos química, biologia pura
Macho-fêmea-fêmea-macho-macho-macho-fêmea-fêmea,
Eu e você somos tudo
E todos os elementos químicos
E os outros
Eu e você somos tudo
Eu e você
Menos o tédio compulsivo do colégio tradicional.
segunda-feira, 19 de março de 2012
CARTA PARA ALGUÉM QUE NÃO A RECEBERÁ
Sou antes desse sentimento revoltante esperado: uma paz
desgraçada que segura minha mão confortando o presente, dando a certeza de um
futuro escolhido, coisa essa mentirosa, virtual, mas acessada.
Tu não sabes, mas o avesso da tua cabeça é o precipício. Eu
gosto de me atirar nos precipícios escuros, por isso sempre sofro de amor. (Nunca
se sabe o que vai ser encontrado, e não é uma queda inquebrantável forever,
cair não é ruim, não pra mim que gosto da emoção como as industriais, vendidas
em parques de diversão: ruim não é a queda, é o chão). Penso que é por isso que tu foges
convicto, atrás de saídas, certo de paz ligeira.
Falo o que falo pelo desistir dos meus sentimentos, sem
aquele medo inexorável que toma conta da mão e da boca e não faz falar pela
esperança de um futuro. Não quero ter um futuro conjunto. É isso assim, claro.
Abdico do direito de amar você, de querer você, de imaginar seu corpo pregado numa
cruz e eu tentando retira-lo, beijando tuas feridas para aliar-te a dor, [que
seria minha também]. Não quero mais te comprar um livro mágico e escrever
sentimento naquele espaço em branco, o que é propicio pra isso. Isso de ser
bobo e querer ser eterno ao mesmo tempo.
Nem quero tua morte imediata como sempre fiz nesses
processos angustiantes de... acho que de funeral de morto desaparecido, um
enterrar de caixão vazio, de cerimonia semiótica ridícula, mas essencial para
minha família. Quero um particípio teu longe do meu. Uma agonia tua por minha
causa a qual nunca saberei claramente. E ler toda essa bosta de novo quando
pensar em você.
Campina Grande, 20 de março de 2012
A.F.
MARA SARA
Mara! Deixa eu rir da tua cara
Tuas boates, tuas taras
Tudo festa e devoção
Sara as metralhas
Que te matas
Tuas feridas
Tuas faltas
O teu jeito novo eu te dou
Sonha
Vira santa ao contrario
O poder não perece: na tua cara
E o teu tom
Morde, aqueles que me metralham
Tira sangue, sanguessuga
Se eles gostam, por que tu não?!
Lava tua cara de safada
Vira anjo madrugada
Aquilo que tu ama tu não matas
Foi teu signo quem contou
Tu não sabe não, tu aprende pra ontem
Tu devora
Tu decora a casa de coração
E depois tu melhora
Que teu homem é tu
Que teu filho é tu
Que teu pai, que tua mãe
É tu é tu
Mara
sábado, 17 de março de 2012
ESCOMBROS
A pele envelhece
É parede inventada por Deus
Rachada pelo tempo
Segurando fome e sede
E o desejo profano
Sobretudo animal
Outra invenção de Deus
Se me disserem Deus não existe
Eu desmorono
Se me disserem Deus existe, olha Ele lá
Eu desmorono mais ainda
terça-feira, 13 de março de 2012
ESPELHO
Atravesso as fronteiras sem passaporte
Eu mesmo, Clandestino
Amanheço noutra cama, outra Maria
Outro João, José, Irene, Teresa
Outro café da manhã
Mas errado na liberdade que me guia
Tenho um rabo preso com a saudade
Que me faz pensar num rosto velho que se enruga cada vez
mais
quando eu vejo.
Essa minha cara de choro conformado
De sorrido de anjo caído
Que não caí da cama de seu ninguém
É dono do beijo
É dono do toque
É dono das partes, quais não for se apossa.
E pulsa o sangue sofridinho
Quase lágrima
Ou seria água do mar?
Tem um amor?
Tem dois. Tem nenhum.
Sê amor.
E fala
Mais que tudo
De tudo
Tudo inventado
Roubado
Pensado
... - mentira.
segunda-feira, 12 de março de 2012
UM COR
Eu só te quero em bicicleta
Teu nome e teu batom
Se eu estou longe, tu me apertas
E eu vou, e eu vou
Maldizem-me: Rosto nem é tão bonito quanto você me contou,
Mas se eu não for contigo
Nem fico, nem brinco, nem sou, nem sou
E os passos na areia
São meus, são teus, amor
Um saci, um curupira, o amor confundi, num é amor?!
E as pessoas que lá caminham
Inocentes não veem cor
Do vermelho que não é de tinta
Que eu: te dou, que eu dou
Quem não sabe do que o amor é feito
É feio, é feio, nunca amou
Poderias ser um artista
Um galã, ou um cantor
Mas tu pensas em projetos
E formas, tamanhos e cor
E cor, e cor, e cor, e cor e cor
E cor, e cor
Se eu fico um domingo
Sem te ver
O mundo muda de cor
Tu não sabes que é só minha
Tua cor
Tua cor
E eu
Eu vou, eu vou, eu vou, eu vou
Eu vou, eu vou, eu vou, eu vou
e eu vou, e eu vou.
Se tu ligas na hora calada
E eu mudo: mudo de cor
Penso que és minha namorada
E eu sou o teu cantor
Cantor
Cantor.
quinta-feira, 8 de março de 2012
DO TAMANHO QUE TEM
Vem
Mas vem de carnaval particular
De Napoleão e seus cem soldados
De Sartre fazendo pirraça
De Nietzsche vestido de padre
Vem de diabo bonzinho
Com serpentina e tudo
Vem pelado globeleza
De chocolate
Que eu te como
De coca-cola
Que eu te tomo
Vem azul e vermelho
De cavalo
De pó de perlimpimpim
Vem
Vem roubar meu ultimo biscoito de chocolate
Vem Vem Vem
Pecado perdoado
Vem de Deus-invisível-todo-poderoso
Branco Preto Amarelo Misturado
Vem sem avisar.
quarta-feira, 7 de março de 2012
ACONTECEU
Aconteceu
No breu do breu
Com eu
E o seu
No meu
No teu
E eu?
É meu?
É teu?
Aconteceu?
Ou fui eu?
Quem se perdeu
No que Deus prometeu
...
O que é teu
Agora é meu.
G.B.
Eu não tenho culpa
Se tuas fotos me enganam,
servindo de convite imprescindível
...vem. vem. vem. vem.
Se o peso da tua palavra em latim serve como ponte
E eu sou sozinho
Não sei muito bem resolver essas questões do amor
Tu falando comigo
E eu respondendo
É estranho, mas é bom
Viver nessa distancia ridícula
Um querendo o corpo do outro
Eu cachorro, querendo cheira, procurar alguma coisa em ti
Morder
E alguns quilômetros impedindo
E o que eu quero antes e mais que tua boca, num momento
absurdo
São as palavras tatuadas no teu corpo
Que saíram da boca de Maria Bethânia e Gal Costa.
segunda-feira, 5 de março de 2012
MACUMBA
não vejo a hora de nossas estradas se cruzarem
d’eu beijar tua pela nua, te cheirar
de uivar e grudar, de cruzar com você: animal
invadir tua fenda
e cruzar nossos DNA
somando um mais um: um maior
tudo isso numa espécie de encruzilhada
tu e eu, eu e tu, despachados
e mortos vivos
como velas, tacho de barro e frango preto de macumba]
ACORDE
Ai elegância maldita que me escraviza a teu nome
Sou teu
Sou teu
Digo eu como uma melodia pobre
Sou teu
Sou teu
É o amor?
Não, é uma música que Maria Bethânia gravou.
terça-feira, 14 de fevereiro de 2012
AMOR?!
Pedir amor pra um amor
É uma dor
Que só quem pede depois de tê-lo e perde-lo sabe
Eu já pedi amor para um amor que me amou
E que depois foi-se embora
Amando o amor que não era o meu
E meu amor ficou
Com o que sobrou
Daquele amor
Exatamente
Ciúmes, tristeza e solidão
Sentimentos que não rimam com amor.
AMAR É PREGAR O DIABO NA CRUZ
desenhei um coraçãozinho no caderno
desenhei foi o diabo na cruz
porque amar é isso mesmo
pregar o diabo na cruz.
desenhei foi o diabo na cruz
porque amar é isso mesmo
pregar o diabo na cruz.
MÁRCIA
no avesso do avesso tem uma flor
que brota do avesso do respeito
maquiada pelo avesso da ilusão
retrato do avesso da mentira
viva no avesso do comum
um avesso do avesso de um homem é uma mulher
o avesso do avesso do menino, um homem
sempre o avesso do avesso da mulher, mulher.
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
DONA ADÍLIA (NEM VALE A PENA)
Pingando as letras do teu nome
Eu começo a entrar em desespero
É uma enchente que ameaça
Eu sei porque já tive isso antes
De ligo, digo e não ligo não digo
De penso e não digo
De olho e me erro
Eu me erro absoluto
Como quem corre na rua de olho fechado
E tu não vales nada
Não tem nem sentimento guardado no avesso deste texto
Eu-pessoa me danando ridícula cíclica esdruxula
Fazendo comparações tolas tentando achar respostas
Eu, que quero as perguntas, são elas que me sustentam
Que me detém na sanidade aceitável
Desejando sei lá o quê
A tua morte, um desastre, que tu vires santo
Porque a mesma boca, as mãos que me tocaram
Livres
Foram livres para outras pessoas
Livres
Sendo eu a única pessoa presa na história
Porque é isso que eu me sinto barrado na minha festa
Linda que fiz e que pegou fogo um dia
Tu não lembras, porque tu morreu nela também
Eu só me comporto como uma senhora que diz que o marido que
batia nela era um anjo
E nem era
E nem foi
CHEIRO DE GUARDADO
é perigoso o sentimento que eu guardo
um futuro tumor
ou pelo encravado
contendo teu nome, o qual nem digo mais
nem pra reclamar nem lamuriar
tu encrustado como sujeira
pedindo em apelo pano molhado
álcool, água sanitária, desinfetante
vassoura, escovão
teu nome anda sujo comigo
teu nome não que digo por boca minha educada
teu nome não se escreve mais pela minha mão
estou de mal de você.
PRA SE SENTIR SAUDADE
deixa a janela aberta numa noite fria
querendo que entre por ela a vida
o frio faz tremer a carne e me faz lembrar
de um beijo
que me faz tremer mais
e tudo acontece de olhos fechados
e sozinho fico contigo
tu abre e eu entro
e tu me engole com tua boca
e eu vítima das tuas investidas em me marcar
eu deixo
eu guardo tudo de novo
fecho a janela
e tu voltas a ser saudade
a saudade fria e cortante que queima dentro de mim.
CICATRIZ
ele me desenhou numa nuvem negra
de grafite
o menino estranha
o menino que mora sou eu
um pedaço de carne
defumada
o menino cheira e acha estranho
o menino estranha
o menino que mora sou eu
riacho, sol, árvore, tudo riscado
o menino conta uma história
o menino menti
o menino que mora sou eu
passo em silencio, hora de fugir
noite escura, rua deserta, casa estranha
o menino dorme
o menino sonha
o menino que mora sou eu
tiro, não se ouve
o menino cai
o menino cai
sangue cor de morango
chama pela mãe que não virá
o menino ainda sou eu
o menino ainda sou eu
E ELA
O sorriso dela denuncia a noite anterior
O mundo acontece
Em sentimentos diversos
E ela
No primitivo amor
E ela
Sorrindo
O nome dela, ela mesmo escolheu
Era Maria das Graças, Gracinha?
Qual era, qual era, ela mudou, de novo
Perdeu rumo
Tomou tequila
Andou nua pela casa do desconhecido
Bonitão
Foi, mentiu
Enganou
E ela
Não era ela
Não era ela
Não era ela
E ela não era ela.
MAIS (OUTRA VEZ)
Espero pela tua bruta ignorância
Que me ligará marcando um encontro de um perdão
Para aquilo que não se pode perdoar
Espero porque se não o caos continua
E nós ficamos assim
Calados
E tristes
Vem
Ainda podemos nos ver pela ultima vez
... de novo. Mas que se dane a pontuação
Vamos praticar a redundância ridícula
Do amar, de novo
Minha língua tá descansada
Deseja aquilo teu
No segredo criminoso do teu corpo
Vem
Vamos mais uma vez cometer o erro antigo de nos amarmos
Outra vez.
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012
ESTÓRIA
ele tem um navio
mas são minhas as águas salgadas
ainda podes navegar pelas águas doces
mas sereias, calipso e capitanias
não faram parte do contexto
águas agitadas
águas calmas
traiçoeiras
dançantes
quentes
frias
sobre tudo sentimentais
perderas o direito de existir
ao enferrujar longe do mar
como o pesar da idade sem o amor
minha vez chegará
cortante
pelo frio de maio
em outro navio
pousarei
eu o sol a lua e todos os astros
nada mais que estórias de pescadores.
PESCADOR
Pescar pesca a dor
A minha dor
Que é graúda
E que nada
Nada mesmo
Nas águas fundas
Do meu eu
Que nada
Sabe de mim
Oh pescador
Eu sei que tua dor
Também navega
Pelas mesmas águas
Que a minha repousa
Uma dor
Nunca é maior
Do que a outra
Mas, oh pescador
Uma dor conforta
A outra
E sendo eu
A outra dor
Que nada
E nada sabe
Perante o tamanho
Dessas águas
Azuis
Que já foram um dia
vermelhas.
Pega a minha dor
Pescador
A IDADE DO ADEUS
as minhas mãos estão ficando ásperas
temo não sentir mais a macies da tua pele
eu choro escondido
tu ligas para mim no confidencial
e eu atendo
e às vezes enganado digo que és tu
e não és.
mas também é na minha mentira confidencial
insistente.
você está virando ausência
e é o medo disso que me obriga
a não perder o teu foco
me obrigo a obrigar-te
eu a ti
sendo eu mentira
sendo eu tua mentira
sendo eu verdade maldosa
onde eu me dano,
pelo ocultar-me perante uma proposta nova de amor
quero de novo teu nome no meu celular
nas ligações feitas e recebidas
e quero ainda, com força de ambição maligna
mensagens
e a certeza de um beijo de despedida
toda noite
mas como?
se você não vive mais nessa cidade.
Assinar:
Postagens (Atom)