quinta-feira, 29 de março de 2012

ABRE-TE




Ajoelha-te de Sésamo
Triste fortão que quer me dar
Abre tuas cavernas secretas
No nosso segredo mais lindo
E íntimo

Passado teu fogo
Te invento um conto
Pra tu que me amas demais
Tu é, tu é edifício
É difícil de te contar
Essas mentiras lindas

Ajoelha-te Napoleão
Agradece o ferro que te ferre
E tira sangue
Me beija
Me favorece
Nessa história de fogo
Tua carne tremida eu seguro
E assopro

Agradece a Deus, eu
Nero: incendiário de colchões masculinos
Num fogo azul alimentado por cachaça
Eu suspiro, eu como, eu chupo
E quero sempre mais

Tu nem é grande, Alexandre
Mas tu aguenta sorrindo um exército
Nem percebe que eu te invento único
Tua barba, tua cara de mau
Te derrubo e te engulo
Tua força é meu fel

Língua
Pele
Boca
Dente
Boca
Gemido
Escuro
Escuro
Comida
Prova
Provo
Segredo
Absurdo
Atiro
Eu derrubo, abatido, é meu.
Te como.



SUICÍDIO



Poderia inventar outro amor, um amor cor-de-rosa ou azul mesmo, como você, mas em outro tom, um azul oriente médio turquesa. Poderia me amar eu mesmo, frequentando mais bares, noites novas, pessoas de formar novas, mistérios resolvidos. Mas aquela corrente que nos propomos a usar ainda há presa a meu pé. Eu já tentei dizer que não tinha nada, que era só solidão, carência e por isso os telefonemas e as mensagens. Tudo mentira.

Eu quero você. Eu quero você. Eu quero. Tudo aqui quer você. Mas eu tenho que seguir. Reencarnar em outra vida, reciclar este corpo que me resta e mudar. Mudar. Mudar. E virar passarinho. Ir voando pela janela todo dia e voltar para meu ninho: dormir, tomar água e comer.

Aqui jaz nosso amor. Amor. Adeus. 
segunda-feira, 26 de março de 2012

CANTO


em cada canto eu conto
em cada canto eu tento
em cada canto eu penso
em cada canto um conto
em conto um canto
meu, particular, dividido pelos acréscimos contado a finco
um depois, um depois. agora. e depois? esquece-se.
eu penso, eu conto, eu canto.

NADA NÃO


escrevo teu nome com minha menor letra
num pedacinho de papel
miudinho.
e depois engulo
é nada não,
é só saudade.

OUTRO MAR



mordo as tuas carnes mais nobres
é agosto ainda e choro tua partida
partida pelo atlântico
azul verde profundo atlântico

mar de esperanças inundam tudo aqui
um mar desgraçado, sobretudo salgado
e ainda é agosto, agosto, agosto
do cão, de deus, sei lá

teu sangue ainda eis em minha toalha
amarela
quase verde de esperança
quase negra de profana
sabes o que houve
eu não sei
acho que foi coisa de outro mundo
assim, como você
doce ilusão.

azul de escuridão
azul de noite sob o atlântico.
quarta-feira, 21 de março de 2012

FINDO



Tava abandonado seu
E você viu sim. Eu sei.
Parece que matou um pouco mais
De mim

Tava a pensar em nós dois
O corpo de estrelas marrons
E tudo que é bom e findo
findou

Agora não tem
Retrato pra olhar
Eu fico com a canção da Elis
Dizendo alguma coisa
Bem motriz
Perdida numa rádio qualquer

Ainda tenho aquela mentirinha
Escrita num papel
Azul
E os astros [todos loucos] se riem de mim
Tão azul tão blue tão zum
Se tudo que é findo finda
Por que que eu não findo o teu
Fim
terça-feira, 20 de março de 2012

LAVAR DE TAPETE


Eu chorei por você. Tomei guaraná também. Não foi nada. Foi um bater de asas na verdade. O choro é antes desse sentimento condenado pelos livros de autoajuda, os quais não leio, um processo de catarse profunda, de banho, de limpeza de carpete, de tapete que você pisou, que você esteve. Você com toda sua sujeira desgraçada.

Não me importaria de me sujar contigo, o fiz várias vezes, mas sempre com esse véu que tu usavas. Ridículo. Escuro e etéreo. Como os cachorros bonitinhos que um dia mordem os seus donos. Você me deixou uma tremenda marca de mordida. Amor.

Eu estou aqui. Sentando. Escrevi até um poema estilo Gertrude Stein o que, acredito, você nunca olhará. Embora esteja em meu blog. Você foi só um errinho romântico. Arquetípico meu. Eu queria me apaixonar e me apaixonei. Eu e todo o mundo. O mundo que faz e fez bombas atômicas e mata por amor. Eu mataria por amor. Já me matei algumas vezes. E me pus por algum instinto que desconheço no caminho da luz, a qual me fez renascer. Estou aqui. Vivo e escrevendo essas cartas quase vermelhas. Se houvesse as tintas certas.

Eu te amo, na verdade, e na mentira. Mas não quero outra vez dormir do teu lado. Quero a distância, o esquecimento, de você e de tudo isso. Quero. amor meu, é ser feliz: Coisa impossível ao seu lado. E para alguns um querer de bases antagônicas, polares. Nem sempre o amor trás a felicidade. Não. Não tenho essa vontade suicida de senhoras, do interior, de ficar ao lado do marido infiel, não seria uma versão Simone de Beauvoir masculinizada, deixando você se apaixonar tantas vezes por cretinos mais jovens, aos quais sempre haverá da sua parte mensagens como “do meu coração para o seu”. Eu quero-mais-não.

Vai tomar no cu.

Pronto.

Lavei meu tapete.

NA VERDADE



Na verdade você sabe que eu você temos química
Eu e você temos química na verdade
Eu e você somos química
Somos química, matemática
Português, inglês, física
Eu e você somos verdade
Na verdade somos verdade
Eu e você
Somos química, biologia pura
Macho-fêmea-fêmea-macho-macho-macho-fêmea-fêmea,
Eu e você somos tudo
E todos os elementos químicos
E os outros
Eu e você somos tudo
Eu e você
Menos o tédio compulsivo do colégio tradicional.
segunda-feira, 19 de março de 2012

CARTA PARA ALGUÉM QUE NÃO A RECEBERÁ


Sou antes desse sentimento revoltante esperado: uma paz desgraçada que segura minha mão confortando o presente, dando a certeza de um futuro escolhido, coisa essa mentirosa, virtual, mas acessada.

Tu não sabes, mas o avesso da tua cabeça é o precipício. Eu gosto de me atirar nos precipícios escuros, por isso sempre sofro de amor. (Nunca se sabe o que vai ser encontrado, e não é uma queda inquebrantável forever, cair não é ruim, não pra mim que gosto da emoção como as industriais, vendidas em parques de diversão: ruim não é a queda, é o chão). Penso que é por isso que tu foges convicto, atrás de saídas, certo de paz ligeira.

Falo o que falo pelo desistir dos meus sentimentos, sem aquele medo inexorável que toma conta da mão e da boca e não faz falar pela esperança de um futuro. Não quero ter um futuro conjunto. É isso assim, claro. Abdico do direito de amar você, de querer você, de imaginar seu corpo pregado numa cruz e eu tentando retira-lo, beijando tuas feridas para aliar-te a dor, [que seria minha também]. Não quero mais te comprar um livro mágico e escrever sentimento naquele espaço em branco, o que é propicio pra isso. Isso de ser bobo e querer ser eterno ao mesmo tempo.

Nem quero tua morte imediata como sempre fiz nesses processos angustiantes de... acho que de funeral de morto desaparecido, um enterrar de caixão vazio, de cerimonia semiótica ridícula, mas essencial para minha família. Quero um particípio teu longe do meu. Uma agonia tua por minha causa a qual nunca saberei claramente. E ler toda essa bosta de novo quando pensar em você.

Campina Grande, 20 de março de 2012
A.F.

MARA SARA


Mara! Deixa eu rir da tua cara
Tuas boates, tuas taras
Tudo festa e devoção

Sara as metralhas
Que te matas
Tuas feridas
Tuas faltas
O teu jeito novo eu te dou

Sonha
Vira santa ao contrario
O poder não perece: na tua cara
E o teu tom

Morde, aqueles que me metralham
Tira sangue, sanguessuga
Se eles gostam, por que tu não?!

Lava tua cara de safada
Vira anjo madrugada
Aquilo que tu ama tu não matas
Foi teu signo quem contou

Tu não sabe não, tu aprende pra ontem
Tu devora
Tu decora a casa de coração
E depois tu melhora
Que teu homem é tu
Que teu filho é tu
Que teu pai, que tua mãe
É tu é tu
Mara 
sábado, 17 de março de 2012

ESCOMBROS



A pele envelhece
É parede inventada por Deus
Rachada pelo tempo
Segurando fome e sede
E o desejo profano
Sobretudo animal
Outra invenção de Deus

Se me disserem Deus não existe
Eu desmorono
Se me disserem Deus existe, olha Ele lá
Eu desmorono mais ainda


terça-feira, 13 de março de 2012

ESPELHO



Atravesso as fronteiras sem passaporte
Eu mesmo, Clandestino
Amanheço noutra cama, outra Maria
Outro João, José, Irene, Teresa
Outro café da manhã


Mas errado na liberdade que me guia
Tenho um rabo preso com a saudade
Que me faz pensar num rosto velho que se enruga cada vez mais
quando eu vejo.

Essa minha cara de choro conformado
De sorrido de anjo caído
Que não caí da cama de seu ninguém
É dono do beijo
É dono do toque
É dono das partes, quais não for se apossa.

E pulsa o sangue sofridinho
Quase lágrima
Ou seria água do mar?

Tem um amor?
Tem dois. Tem nenhum.
Sê amor.

E fala
Mais que tudo
De tudo
Tudo inventado
Roubado
Pensado
... - mentira.
segunda-feira, 12 de março de 2012

UM COR


Eu só te quero em bicicleta
Teu nome e teu batom

Se eu estou longe, tu me apertas
E eu vou, e eu vou

Maldizem-me: Rosto nem é tão bonito quanto você me contou, 
Mas se eu não for contigo
Nem fico, nem brinco, nem sou, nem sou

E os passos na areia
São meus, são teus, amor
Um saci, um curupira, o amor confundi, num é amor?!

E as pessoas que lá caminham
Inocentes não veem cor
Do vermelho que não é de tinta
Que eu: te dou, que eu dou

Quem não sabe do que o amor é feito
É feio, é feio, nunca amou

Poderias ser um artista
Um galã, ou um cantor
Mas tu pensas em projetos
E formas, tamanhos e cor
E cor, e cor, e cor, e cor e cor
E cor, e cor

Se eu fico um domingo
Sem te ver
O mundo muda de cor

Tu não sabes que é só minha
Tua cor
E eu 
Eu vou, eu vou, eu vou, eu vou
e eu vou, e eu vou.

Se tu ligas na hora calada
E eu mudo: mudo de cor
Penso que és minha namorada
E eu sou o teu cantor
Cantor
Cantor.
quinta-feira, 8 de março de 2012

DO TAMANHO QUE TEM


Vem
Mas vem de carnaval particular
De Napoleão e seus cem soldados
De Sartre fazendo pirraça
De Nietzsche vestido de padre
Vem de diabo bonzinho
Com serpentina e tudo
Vem pelado globeleza
De chocolate
Que eu te como
De coca-cola
Que eu te tomo 
Vem azul e vermelho
De cavalo
De pó de perlimpimpim
Vem
Vem roubar meu ultimo biscoito de chocolate
Vem Vem Vem
Pecado perdoado
Vem de Deus-invisível-todo-poderoso
Branco Preto Amarelo Misturado
Vem sem avisar.
quarta-feira, 7 de março de 2012

ACONTECEU


Aconteceu
No breu do breu
Com eu
E o seu
No meu
No teu
E eu?
É meu?
É teu?
Aconteceu?
Ou fui eu?
Quem se perdeu
No que Deus prometeu
...
O que é teu
Agora é meu.
Meu quilate: late, cheira e morde.

G.B.





Eu não tenho culpa
Se tuas fotos me enganam, 
servindo de convite imprescindível
...vem. vem. vem. vem. 
Se o peso da tua palavra em latim serve como ponte

E eu sou sozinho
Não sei muito bem resolver essas questões do amor
Tu falando comigo
E eu respondendo
É estranho, mas é bom

Viver nessa distancia ridícula
Um querendo o corpo do outro
Eu cachorro, querendo cheira, procurar alguma coisa em ti
Morder

E alguns quilômetros impedindo

E o que eu quero antes e mais que tua boca, num momento absurdo
São as palavras tatuadas no teu corpo
Que saíram da boca de Maria Bethânia e Gal Costa.

segunda-feira, 5 de março de 2012

MACUMBA


não vejo a hora de nossas estradas se cruzarem
d’eu beijar tua pela nua, te cheirar
de uivar e grudar, de cruzar com você: animal
invadir tua fenda
e cruzar nossos DNA
somando um mais um: um maior
tudo isso numa espécie de encruzilhada
tu e eu, eu e tu, despachados
e mortos vivos
como velas, tacho de barro e frango preto de macumba]

A PALAVRA PINTADA


ACORDE


Ai elegância maldita que me escraviza a teu nome

Sou teu

Sou teu

Digo eu como uma melodia pobre

Sou teu

Sou teu

É o amor?

Não, é uma música que Maria Bethânia gravou.

Blog Archive

Tecnologia do Blogger.

Seguidores

Hipocondria Literária Popular