quarta-feira, 30 de julho de 2014
Defesa da noite
Eu amo a madrugada. Sempre gostei desse tempo onde tem silêncio comprido e a música fica mais bonita (como se tivesse encorpada de cheiro e cor). E gosto de quem gosta da noite. Gosto de olhar pro céu, de imaginar discos voadores, ou de como os Santos nos vêem, se afastam algumas nuvem ou se usam de tecnologia mística. Se chove a noite, me permito pensar “por que Deus está lavando o céu à essa hora? Deve estar muito sujo.”. Gosto, sobretudo, da contra-mão noturna, da possibilidade de estar em sonhos e ali (ou aqui). Admiro mais ainda escritores noturnos, vendedores noturnos, médicos noturnos e todos aqueles que acontecem no silêncio das coisas, da cidade. Eu penso isso tudo desde criança, e até hoje eu sustento essas minhas teorias. Porque só a noite, no seu embalo sono-sonoro, permite essa licença, quase poética, se não fosse a violência ditatorial dos despertadores. Um dia, ou uma noite a gente muda isso e faz o que quer quando quiser, toda e qualquer pessoa.
domingo, 20 de julho de 2014
ABORTO
Você acontece remotamente enquanto as coisas acontecem sem
entender o sentido. Há sobretudo um sentimento natural, e esse é o pior, faz
remexer e confundir todos os órgãos internos, por entre os ombros e o abdômen.
Já tive isso antes, eu sei. Mas vacina não ajudaria? Não, ajuda não. O amor
nesse caso é sem dúvida o crime perfeito. E se ele não acontece de forma
esperada, é maior auto-sabotagem que se possa esperar no âmbito da crueldade.
Eu quero e não posso ter, e eu mesmo digo isso, me limito, me guardo e me mato.
Você samba em cima da minha cama, e os passos destroem sonhos, futuros, mas
alimenta minha poesia. Você não é a minha mãe.
terça-feira, 1 de julho de 2014
DEMAIS
Parece que um novelo de
uma lã me cobre o corpo agora
uma lã azul e grossa
desenhando, em sequência têxtil
uma roupa
que cobre meu corpo
inteiro
e sobra ainda
você está tão bem
é como tivesse esquecido
tudo
ou não se importasse com
nada
sei que a resposta é
cruel demais
e por isso a mentira
e por isso a fuga
e logo eu que sou filho
de São Jorge
que sempre batalhei por
tudo
mas tudo bem
você precisa continuar
e eu começar tudo
e tudo é muito cruel
porque caminhamos em
lados opostos
e sei quando nos veremos
de novo
estaremos velhos
e não pela idade
de uma velhice de nós
mesmo
a qual não nos reconheceremos
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