terça-feira, 3 de março de 2015

no peito

‘coamão’ na cabeça,
a mãe desesperada, junta os instantes
em busca de entendimento
sua boca se desregula
está torta, como o olhar que não foca na realidade
ao poucos vai tomando o ar necessário para completar a ação
é mentira, é mentira... falava.
todos a volta sentem muito pelo fato ocorrido
todos tiveram mãe, todos choraram
do outro lado a velha gorda e sábia
como quem arruma um desfecho
toca a mãe, acalento-a
“segura trem, segura trem”
é tudo muito triste,
as balas malditas,
e as notícias
que caba boca que fala,
a cada olho que se aproxima
e parecem tocar na ferida
ela continua respirando instintivamente
quando erra, soluça
é uma mãe, e podia ser a sua
toda mãe chora maior
que o choro do filho

na cerimônia
errante recebe os convidados que vieram velar o morto
ela sorri
será que delira?
será alguma lógica espiritual que a acalenta?
os olhos ainda vermelhos, confundem
de coração partido
a mãe lamenta o mundo
que não terá a chance da vida do filho

no lugar certo
se houve choro nas redondezas
outras mães presentes se lembram
se vêem, espelhos
outras nem nada
cada dor tem seu mecanismo
sua arquitetura, as que não se parecem se respeitam
é isso mesmo
a vida é isso tudo
um punhal no peito que você tem que usar,
ou uma medalha de um santo,

ou um simples e pesado pingente.

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