segunda-feira, 3 de dezembro de 2012
VIDA MATO, VIDA DE MATO
Morávamos no mato, eu, meu pai, minha mãe e nosso cachorro
João. Comíamos muito bem, tinha a galinha com coentro com aquele caldo incrível
que molhava o arroz e cheirava bem, contaminando de vontade toda a cozinha. A
casa do mato, não tinha muitos moveis, nem eletrônicos. Em noite de lua clara,
que azulava a mata escura, íamos para uma velha arvore morta que servia de
sofá, meu pai deitava numa esteira de frente para mim e minha mãe, como se
apreciasse a família que tinha, o João sentava do lado dele, sempre. Ele levava
seu toca disco portátil, e tocava o disco da Maria Bethânia, que parecia narrar
toda aquela dinâmica de viver da gente, e mais ainda, nos fazendo imaginar como
era engraçado o além da mata escura. Éramos felizes, às vezes éramos mais ainda
quando tomávamos banho de chuva e eu via meus pais se beijarem sem vergonha e
naturalmente. Lembro-me perfeitamente do velho João chegando com meu pai, que
trazia caças para minha mãe preparar. Eu não sofro com essas informações todas,
que se pintam na minha cabeça em dias como esses, azuis, acredito que elas,
todas elas, ainda existam e vivem em algum tempo, como um Deus, que recria
várias vezes o mesmo mundo. Fomos felizes de maneira única. E somos. Eu sei. E
eles também.
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