domingo, 23 de dezembro de 2012
ULTIMOs MINUTOs
Os arranha-céus estão caindo
Palácios inteiros corroem
Enquanto nuvens ácidas passeiam pelo planeta
É hora de dizer eu te amo
É hora de proteger retratos
É a grande hora de ouvir pela ultima vez
Elis
E as águas engoliram
Litorais
E o fogo líquido igualaram
povos
E explosões claras buscaram os outros que sobraram
Tudo indo para ser eternidade no espaço
Poeira, poeira, poeria, poeira
E estarei confortável por termos sido um
maior do que o apocalipse.
quinta-feira, 20 de dezembro de 2012
CARNAVEL
Não pise, não
Que não vale as tuas penas
É pra pintar então, compra tinta, sim
Muda o cabelo, se precisar
E se quer ainda pinta os dentes de brigadeiro
Pra se rir com seu sorriso
De chocolate
Tropicalia-se
Coloca Gal na tua dor
Hermana-te
Elis tá no rádio
É dia de inventar
Um novo tipo de carnaval
Porque afinal
Sorri demais
É cegar-se das cores escuras.
domingo, 16 de dezembro de 2012
ISSO
O mundo diz desce
Sai do alto garoto
Quem é você? Quem é você
Quem você pensa que é?
Desce
Cabeça no chão
Do lado dos pés dos homens
Desce
O menino naquele instante de sabe de coisa ruim
Olha e tenta aproveitar
Gritam ainda mais: Desce
Ele tanta se segurar
Escorregadio
Mãos suadas
Cai
Cai
Cai
Cai
Cai
Cai
Cai
Cai num buraco e se plantou
Com poeira do tempo e lances do vento
Dizem que cresceu uma planta lá
“Tem nada não”
Plantar apontam pro céu.
segunda-feira, 3 de dezembro de 2012
VIDA MATO, VIDA DE MATO
Morávamos no mato, eu, meu pai, minha mãe e nosso cachorro
João. Comíamos muito bem, tinha a galinha com coentro com aquele caldo incrível
que molhava o arroz e cheirava bem, contaminando de vontade toda a cozinha. A
casa do mato, não tinha muitos moveis, nem eletrônicos. Em noite de lua clara,
que azulava a mata escura, íamos para uma velha arvore morta que servia de
sofá, meu pai deitava numa esteira de frente para mim e minha mãe, como se
apreciasse a família que tinha, o João sentava do lado dele, sempre. Ele levava
seu toca disco portátil, e tocava o disco da Maria Bethânia, que parecia narrar
toda aquela dinâmica de viver da gente, e mais ainda, nos fazendo imaginar como
era engraçado o além da mata escura. Éramos felizes, às vezes éramos mais ainda
quando tomávamos banho de chuva e eu via meus pais se beijarem sem vergonha e
naturalmente. Lembro-me perfeitamente do velho João chegando com meu pai, que
trazia caças para minha mãe preparar. Eu não sofro com essas informações todas,
que se pintam na minha cabeça em dias como esses, azuis, acredito que elas,
todas elas, ainda existam e vivem em algum tempo, como um Deus, que recria
várias vezes o mesmo mundo. Fomos felizes de maneira única. E somos. Eu sei. E
eles também.
DOIS, UM QUASE ZERO
Meu amor é um grande sinal grudado à cabeça
Você viu e soube em todos os momentos
Eu sei, eu sei, eu sei, fomos eternos
E é isso que não entendo
Qual bicho? Qual mãe? Qual outra coisa qualquer
Te tomou tão inteiro de mim?
Por que não me procuras?
Sou o único louco que ama nessa narrativa quase épica
Se não fosse toda a tragédia que inspira e
Caminha somente ela, sozinha
Como eu, agora
Que queria tua presencia
Por mais imunda e ridícula que soasse
Para mim
Que cuido de mim
Desde criança
Talvez fosse o motivo
Dessa saga em tua busca da tua companhia
Do teu amor
Do teu rosto para beijar
Talvez o único motivo
Que eu quero você comigo pra sempre
Seja o porque fomos uma família
Qual eu não tive em patologia
Cuidávamo-nos, um do outro.
domingo, 2 de dezembro de 2012
RETRATO
Revelei minha dor
Mas a foto não prestou
Escuro demais
Triste demais
Sem luz
Mas pode-se emoldurar
E colocar pregado na escada
Ou na sala ao lado telefone
A foto embora ruim e escura
Canta
E num ritmo incrivelmente triste
E lindo.
sábado, 1 de dezembro de 2012
BALADA DO REI PERDIDO
Quero tua majestade secretar
Em pura pompa particular
Quero seguir a tua luz
Que pode transformar
A dor em entra coisa azul
Por que a vida é passageira
Se a noite ainda não acabou
Não temos uma felicidade inteira
Para ser jovens
Mas podemos voar, então
Eu ando pela linha inteira
Caminhão
Cimento
Avião
Tudo toca e eu levo comigo, em gravador
Não penses que posso ser quente a vida inteira
Se você mesmo já me assoprou
Não deixe para dor
Aquilo diferente
De sentir
Como o amor.
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